Entendendo o Documento "Mãe do Povo Fiel"

"Perto da cruz de Jesus, estavam de pé a sua mãe, a irmã da sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena. Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: “Mulher, este é o teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Esta é a tua mãe”. Daquela hora em diante, o discípulo a acolheu consigo." (Jo 19,25-27)

    Uma das principais características da fé cristã é a criatividade. A capacidade de pensar, repensar a vida cristã e vivê-la no cotidiano, faz da fé um elemento fundamental na busca do sentido. Porém, por vezes, muita criatividade pode nos afastar do essencial e nos fazer ocupar com elementos secundários que turvam a visão da própria fé. Nosso amor por Maria se dá em relação ao nosso profundo amor por Jesus. É Ele quem nos dá Maria por mãe (Jo 19,25-27).

    Há momentos em que o nosso frágil amor “cega” e, assim, desvinculamos Maria, primeira e maior discípula, de Jesus, nosso Mestre e Senhor.

Da mesma forma que na Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo, um só Deus, mas três pessoas – cada pessoa não se confunde em sua missão: o Pai é o Criador; o Filho é o Redentor; o Espírito Santo é o Consolador e os três são o Único Deus Verdadeiro, com Jesus e Maria não há confusão de papéis: Jesus é o Redentor e o único Mediador. Maria é nossa Mãe e nossa Intercessora junto a Jesus. É nesse contexto que nasce o Documento “Mãe do Povo Fiel”.

 

1) O que é este documento?

Em 4 de novembro de 2025, o Vaticano publicou um documento importante chamado "Mater Populi fidelis" (Mãe do Povo Fiel). Este texto explica como devemos entender o papel de Maria no plano da Salvação e quais títulos são apropriados ou não para chamá-la.

2) Por que foi escrito?

A Santa Sé recebeu muitas perguntas e pedidos sobre títulos dados a Maria, especialmente "Corredentora" e "Medianeira de todas as graças". Algumas pessoas até pediam que estes títulos se tornassem dogmas (verdades reveladas da fé católica). O documento responde a estas questões.

3) As principais mensagens

 Jesus Cristo é o único Redentor

O Documento deixa muito claro: só Jesus salva. Nenhuma outra pessoa, nem mesmo Maria, pode nos salvar. Jesus é o único Redentor e Mediador entre Deus e a humanidade.

Maria não é "Corredentora"

O Papa Francisco foi muito claro: não devemos usar este título. Aqui está o porquê:

1. Maria nunca quis tirar nada do papel de Jesus;
2. A obra de salvação de Jesus foi perfeita e completa;
3. Usar este título pode confundir as pessoas, fazendo parecer que Maria também nos salva;
4. Maria mesma nos aponta para Jesus, não para ela (Jo 2,1-11)

Citação do Papa Francisco: "Cristo é o único Redentor: não existem corredentores com Cristo."

Cuidado com o título "Medianeira"

Este título pode ser usado, mas com muito cuidado, pois:

1. Jesus é o único Mediador verdadeiro;
2. Maria pode interceder por nós e intercede (rezar por nós);
3. Mas ela não fica "entre" nós e Jesus como se precisássemos dela para chegar a Ele;
4. Sua ajuda é como a de uma mãe que nos encoraja e reza por nós, porque ela é verdadeiramente nossa mãe que nos encoraja e reza por nós.

 Maria é nossa Mãe espiritual

Este é o papel principal de Maria:

1. Jesus, na cruz, nos deu Maria como mãe (João 19,26-27);
2. Ela cuida de nós com amor materno;
3. Reza por nós e nos ajuda a abrir o coração para Jesus;
4. Nos ensina a ser discípulos de Cristo, pois ela é a maior e a primeira discípula de seu Filho.

Maria foi a primeira discípula

Um ponto bonito do documento:

• Maria é mais importante como discípula de Jesus do que só como mãe dele
• Ela é modelo de fé para todos nós
• Ela ouviu a Palavra de Deus e a colocou em prática

4) O que Maria realmente faz por nós?

O documento explica que Maria:

1. Intercede por nós - Reza e fala com Jesus por nossas necessidades (como fez em Caná);
2. Nos acompanha - Está próxima de nós como mãe que ela é;
3. Nos aponta para Jesus - Diz a nós: "Fazei o que Ele vos disser" (João 2,5);
4. Nos ajuda a nos abrir para a graça - Como uma mãe que prepara o coração dos filhos filhas.

Importante: Maria não "distribui" a graça de Deus. A graça vem diretamente de Deus. Maria nos ajuda a estar prontos para recebê-la.

5) Uma imagem bonita

Devemos contemplar Maria como uma Mãe que prepara seus filhos para encontrar o Pai. Ela não substitui o Pai e não fica no caminho entre o Pai e os filhos. Ela maravilhosamente os encoraja, reza por eles e os ajuda a ter confiança. Maria é verdadeiramente nossa mãe.

6) A devoção popular é valorizada

O documento elogia muito a devoção simples do povo a Maria:

1. As peregrinações aos santuários marianos;
2. As orações e rezas do rosário;
3. A confiança dos pobres e sofredores em Maria;
4. As diferentes formas de Maria em cada cultura (Nossa Senhora Aparecida, de Guadalupe, etc.).

Tudo isso é bom e deve continuar! O documento não está criticando a piedade do povo, mas sim alguns títulos teológicos que podem confundir.

7) Resumindo

Pode e deve:

• Amar Maria como mãe;
• Pedir sua intercessão;
• Confiar em seu carinho materno;
• Rezar o rosário e visitar santuários;
• Chamá-la de Mãe, Nossa Senhora, Mãe da Igreja.

Evitar:

• Chamar Maria de "Corredentora";
• Pensar que ela salva junto com Jesus;
• Imaginar que precisamos "passar por ela" para chegar a Jesus;
• Usar títulos que podem diminuir o papel único de Cristo

8) Conclusão

Maria é maravilhosa, santa e cheia de graça. Ela é nossa mãe espiritual e intercede por nós. Mas Jesus é o único Salvador. Honramos Maria da melhor forma quando, através dela, chegamos mais perto de seu Filho.

Como diz o documento: "Mãe do Povo fiel, rogai por nós."

Pe. Demetrius S. Silva - Biblista

Pároco de Santa Luzia

Para aprofundar sobre o papel de Maria, nossa Mãe, veja:

https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_ddf_doc_20251104_mater-populi-fidelis_po.html?fbclid=PAdGRleAN2xFBleHRuA2FlbQIxMQABp5SVfRG_wl85g3e156gJL16TBNzBXxfc8-QV3TOkpFgOGq0YzpO7ro-ohjJI_aem_RQpmdCQttaiLj8TGT3RJPg

https://www.mestredemim.com/2014/03/mulheres-de-cristo.html