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OS PADRES E AS ELEIÇÕES

"Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito” (Rm 12,2)

Nos últimos dias muitas pessoas me perguntaram em quem irei votar ou em quem elas deveriam votar. Tenho respondido: "eu vou votar em quem eu quiser” ou “você é livre para votar em quem você quiser”. Brincadeiras à parte, acredito que os padres não devemos apontar candidatos ou partidos em que votar. Nossa missão é apresentar o Evangelho de Cristo, testemunhar a alegria do Reino de Deus, alimentar a esperança dos pequenos e pobres na luta da justiça e celebrar o mistério divino.

Tenho por princípio não dizer publicamente em quem votarei. Também não indico às pessoas sugestões em quem votar. Apenas ofereço princípios cristãos para uma votação mais coerente com os valores de Jesus.

Vejo muitos padres, inclusive companheiros de presbitério, expondo diretamente em quem votarão induzindo os fieis a votarem no mesmo candidato ou partido em que eles votam  ou revoltando àqueles que optaram por votar diferente. Isso não faz bem ao rebanho. Absolutamente não há um único candidato ou partido que represente o Evangelho. Pode existir o "menos ruim”, com a possibilidade de estar mentido em seu plano de governo ou legislatura, como vemos com tanta frequência: o estelionato eleitoral.

Nós padres devemos oferecer o "Evangelho e a sua justiça, e todo o resto será dado em acréscimo” (Mt 6,33). O Reino está entre nós, mas não coincide com nenhuma forma política deste mundo e qualquer sistema político apresenta sérias contradições ao projeto de Jesus. Eu me recuso apontar aos fieis em quem votar, pois o melhor que eu posso oferecer é o Evangelho.

Não condeno meus amigos que erram ao direcionar os fieis, pois no passado fiz o mesmo muito discretamente e me arrependi ao estudar e levar a sério o Evangelho. Hoje prefiro sofrer ao ver meus paroquianos, através de sua liberdade, defendendo e votando em quem é contra a vida, do que indicar alguém em quem votar que também tem atitudes contra a vida. É melhor apresentar o sentido da vida e permitir que cada um vote de acordo com sua consciência.

Os leigos e leigas, cristãos e cristãs no mundo, devem estar engajados nesta luta e a eles cabe assumir publicamente projetos políticos, candidatos e partidos. A mim cabe apresentar o Evangelho puro e simples.


Sei que essa é apenas a minha opinião, mas é uma opinião nascida do estudo do Evangelho. Infelizmente, diante das moedas deste mundo, somos obrigados a dizer “Dai a Cesar o que é de César, e a Deus o que é Deus” (Mt 22,21). 


Pe. Demetrius dos Santos Silva

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