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O MISTÉRIO DA ENCARNAÇÃO

 
           A fé cristã é diferente de todas as outras. A religião cristã é incompreendida e perseguida em muitos lugares. Ela é tida por absurdo pelo fato de crer que Deus é único, mas é três pessoas e, assim, a fé cristã é acusada de ser um politeísmo (crença em vários deuses) disfarçado. Mas, o que mais escandaliza todas as outras religiões é a ideia de que Deus imutável possa mudar e assumir plenamente a realidade humana: Deus encarnou-se, isto é, fez-se humano e assumiu a imagem e semelhança de sua criatura.

            A encarnação de Cristo, na plenitude dos tempos, inseriu em nossa temporalidade que passa um relampejo da eternidade que não passa. Este relampejo que durou cerca de 33 anos transformou todo o universo inserindo em cada partícula a semente da salvação.

            Porém, não podemos nos enganar. A encarnação de Deus não é um conto de fadas e nem uma história de ninar. A criação toda está gemendo em dores de parto (Rm 8,22) e o sofrimento humano é compartilhado por todas as criaturas. É nesse mundo de dor e sofrimento que Jesus, epifania do amor do Pai, encarnou-se. Ele tornou-se frágil, sendo uma criança que necessitou de todos os cuidados de mãe e de pai. Ao assumir a carne humana, Jesus teve a necessidade de ser cuidado por Maria e José, num tempo de perseguição e extremo sofrimento. Nada de fraldas descartáveis e pediatras de nosso tempo.

            A encarnação é escândalo porque a cruz é escândalo. Jesus nasce para morrer na cruz. A Encarnação acontece em função do mistério pascal.

            A humanidade, no início, optou por conhecer o mal e foi seduzida pela serpente e assim desfigurou-se sua imagem: de imagem e semelhança de Deus, nos tornamos imagem e semelhança da antiga serpente. Não dá para permanecer no jardim de Deus sem ser semelhança dEle. Desse modo, a humanidade foi expulsa, ou melhor, expulsou-se de Éden. Deus, em diversas tentativas, quis trazer a humanidade de volta ao jardim. Mas, a humanidade continuava a optar pelo mal enamorando-se pelo pecado.

            Deus então resolve sair do jardim para, Ele mesmo, reintroduzir a humanidade em Éden. Deus fez-se imagem e semelhança do humano, para mostrar como devemos ser humanos. Cristo assumiu a carne humana em sua total fragilidade e ocupou a posição mais baixa: a de escravo. E, passando pela cruz (a pior morte), venceu o fruto do pecado (a morte) e reintroduziu a a humanidade no jardim celeste.

            O Mistério da encarnação só pode ser entendido sob a penumbra do Mistério da Cruz. E o Mistério da Cruz não pode ser entendido, mas experimentado no amor. Ao tornar-se a criança de Belém, Jesus dava o primeiro passo para reintroduzir-nos no Paraíso. Na cruz, Jesus dava a própria vida, o último passo da salvação. Da cruz, todo o resto é consequência do amor: a ressurreição e o Reino definitivo. Como discípulos de Jesus, a encarnação também deve ser o primeiro passo...


Paz e Bem e Feliz Natal!


Padre Demetrius

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